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VIVER E NAVEGAR



Nas margens do rio

Por onde singro as águas de minha vida,

Minhas lembranças acenam

E despedem-se daquilo que sempre fui

E vou deixando de ser,

Visto que o rio flui e eu também.


Nas águas desse rio

Não nadam peixes,

Mas uma imensidão de mistérios,

Enigmas e abstrações;

Fecho os olhos no lapso de um piscar

E já sou outro e o rio mais caudaloso ficou.


Não conheço o rio em sua total extensão,

Apenas trechos por onde passo e vão ficando atrás,

Tal qual o som de uma nova música que se ouve pela primeira vez.


Por mim, nesse rio cruzam tantos conhecidos

Que se seguram nas bordas dos barcos

Devido à grande velocidade dessas viagens prematuras

Que deixam no movimento das águas

Um lamento e uma dor maior ainda,

Por encontrarem tão depressa a imensidão do mar.


Eu, por minha vez também cruzo

Por outros ainda mais lentos que meu barco,

Seres regrados no viver,

Com sorrisos largos

Navegam na paciência

De um experiente timoneiro

Que sabe que o destino não é tão importante

Quanto o trajeto percorrido,

Por isso, não deseja encontrar tão cedo a foz do rio

E desaparecer no mar.

 
 
 

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